"Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu
quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por
favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão
este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar
fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver
razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se
inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem
ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar,
partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo
fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar
alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do
adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada
lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a
ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar..."
Zé Mario Branco
Obrigada a Brigida por me mostrar umas maravilhas aqui e ali.
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