05 August 2008

Tão Pouco


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos

3 comments:

a(muse) said...

Álvaro de Campos é tão tudo mesmo! Espectacular. Existe a "resposta" a este. Conhecias? (eu não!)

«Não, não é cansaço
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.»

a(muse) said...

AAAAHHHHH já consegui finalmente comentar o teu blog! Ainda bem, venham mais contágios deste género. Estou deliciada com o teu céu em tons de púrpura!(L)

(Estava mesmo agorinha a escrever a tua cartinha, tenho uns textos F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O-S para te mostrar!)

a(muse) said...

E a foto está tão perfeita, God. És tu na piscina? Se sim, compreendo o bikini roxo ;) Como é que a tiraste e ficou tão bem? Nem desfocada nem nada! O movimento estraga-me sempre as fotos...